O desfecho deste 18 de novembro traz à tona uma ferida aberta na sociedade brasileira: a cultura da aparência.
![]() |
| Operação Compliance Zero cumpre sete mandados de prisão e 25 de busca e apreensão no DF, RJ, SP, BA e MG - PF / Divulgação |
O desfecho deste 18 de novembro traz à tona uma ferida aberta na sociedade brasileira
Por Emerson Tormann | Atualidade Política
A manhã desta terça-feira (18) amanheceu em Brasília sob o som de sirenes que ecoaram muito além do Setor Bancário. O que se viu não foi apenas uma operação policial, mas o desmoronamento de um castelo de cartas que, por muito tempo, foi vendido como o auge do empreendedorismo financeiro.
O Banco Central, sob a caneta de Gabriel Galípolo, decretou a liquidação extrajudicial do Banco Master, encerrando de vez as atividades da instituição. O ato foi o golpe final em uma narrativa de "sucesso" que ruiu em menos de 24 horas: da euforia de uma venda bilionária para o Grupo Fictor na segunda-feira, para as algemas da Polícia Federal na terça.
Daniel Vorcaro, dono do Banco Master e até ontem um símbolo de prosperidade intocável, foi preso em São Paulo. A imagem do banqueiro tentando embarcar às pressas em seu jato particular para o exterior — interceptado pela PF minutos antes da decolagem — é a metáfora perfeita de uma elite que acredita estar acima da lei, mas que não resiste ao peso da própria fraude.
O contágio no coração de Brasília
Para o cidadão brasiliense, o choque é ainda mais visceral. A Operação Compliance Zero não parou em São Paulo; ela subiu o Planalto Central e atingiu o BRB (Banco de Brasília), uma instituição que é patrimônio do Distrito Federal.
Paulo Henrique Costa, presidente do banco estatal, foi afastado do cargo pela Justiça e alvo de busca e apreensão. A investigação aponta que o BRB esteve perigosamente perto de ser contaminado pelos ativos "podres" do Master. A tentativa de compra de 58% do banco de Vorcaro pelo BRB, barrada pelo BC em setembro, não foi apenas um erro estratégico; segundo a PF, envolveu a emissão de títulos falsos e gestão temerária.
O brasiliense assiste, atônito, à queda de figuras que frequentavam as colunas sociais e os eventos mais exclusivos da capital. Homens que deveriam zelar pela solidez do sistema financeiro público estavam, ao que tudo indica, flertando com organizações criminosas financeiras.
A falência moral e o custo das aparências
Vorcaro e seus pares vendiam a imagem do triunfo no capitalismo moderno. Ternos impecáveis, jatos executivos, promessas de retornos financeiros muito acima da média de mercado e a pose de "visionários". No entanto, por trás da fachada de vidro espelhado do Banco Master, a realidade era feita de papéis sem lastro e manipulação contábil.
Essa decepção coletiva é o sintoma de um sistema que inverteu suas prioridades. Somos forçados a admirar o acúmulo rápido de riqueza, muitas vezes em detrimento da construção sólida de valor. Enquanto a saúde pública agoniza nas filas e a educação luta por verbas básicas, bilhões de reais circulavam em operações fraudulentas para sustentar o estilo de vida de uma meia dúzia de "bem-sucedidos".
O afastamento da diretoria do BRB e a prisão do dono do Master provam que, neste capitalismo de vitrine, a integridade moral tornou-se um ativo desvalorizado. Viver de aparências não é apenas uma escolha estética; é uma aposta de alto risco que, quando falha, cobra seu preço não dos banqueiros — que tentam fugir em jatos —, mas da credibilidade das instituições e da confiança da população.
Hoje, o Banco Central agiu para estancar a sangria financeira. Mas quem estancará a sangria moral de ver, mais uma vez, que os "exemplos inspiradores" não passavam de ilusões de ótica? Resta ao cidadão a amarga lição de que, no topo dessa pirâmide, o brilho do sucesso muitas vezes ofusca a escuridão da ética.
Em uma tentativa de conter a sangria de credibilidade junto ao mercado e aos seus clientes, o BRB divulgou nesta terça-feira (18) um "Fato Relevante". No comunicado oficial, a instituição se apressou em esclarecer que, diferentemente do que ocorreu no Banco Master, "não houve qualquer prisão de integrantes do BRB" durante a operação policial.
Contudo, a nota confirma o impacto direto na cúpula da estatal: por determinação judicial, tanto o Presidente quanto o Diretor Financeiro foram afastados de suas funções pelo prazo de 60 dias. O banco reiterou que já vinha colaborando com o Ministério Público Federal e o Banco Central nas investigações sobre as operações com o Master e assegurou que o atendimento aos clientes segue em "pleno funcionamento", buscando isolar a instituição da tempestade que atingiu seus dirigentes.
Leia o "Fato Relevante" na íntegra abaixo:
Brasília, 18 de novembro de 2025
O BRB – Banco de Brasília S.A. (“BRB” ou “Companhia”), em conformidade com a Resolução nº 44, de 23 de agosto de 2021, da Comissão de Valores Mobiliários (“CVM”), comunica aos seus acionistas e ao mercado em geral que, diante de notícias recentemente veiculadas, sempre conduziu suas atividades em estrita observância às normas aplicáveis de compliance e transparência, prestando regularmente todas as informações ao Ministério Público Federal e ao Banco Central do Brasil relativas às operações envolvendo o Banco Master. O BRB seguirá colaborando integralmente com as autoridades na adequada condução das investigações em curso, assim como já ocorria antes da deflagração da operação.
O BRB informa, ainda, que suas operações seguem em pleno funcionamento, incluindo o atendimento aos seus clientes. Adicionalmente, o Banco esclarece que não houve qualquer prisão de integrantes do BRB na manhã desta terça-feira (18). A decisão judicial que fundamentou a atuação da Polícia Federal nas dependências do Banco determina, o afastamento temporário do Presidente e do Diretor Financeiro pelo prazo de 60 (sessenta) dias.
Por fim, a Companhia reitera seu compromisso de manter seus acionistas e o mercado tempestivamente informados sobre quaisquer fatos ou desdobramentos relevantes relacionados ao tema, em conformidade com sua Política de Divulgação de Atos e Fatos Relevantes e com a Resolução CVM nº 44/2021.
BRB - Banco de Brasília S.A.










COMENTÁRIOS