A vitória de Trump promete sanções a países do BRICS e impõe novos desafios ao Brasil em um cenário de desdolarização e tensões globais.
Trump promete sanções comerciais aos países do BRICS, ameaça tarifas sobre todas as importações e assusta economias globais
A vitória de Donald Trump e seu retorno à Casa Branca podem desencadear consequências profundas no cenário econômico e diplomático mundial, particularmente nas dinâmicas do grupo BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). Com uma postura isolacionista, Trump já prometeu que irá implementar tarifas rígidas para produtos de países que optem por reduzir o uso do dólar em transações internacionais. Durante sua campanha, em discurso no Economic Club de Chicago, ele afirmou seu compromisso de impor uma tarifa de até 100% sobre bens de nações que desafiem a hegemonia do dólar.
Essa política representa um desafio direto ao projeto de "desdolarização" em pauta no BRICS, onde os países membros têm discutido alternativas ao dólar em suas trocas comerciais, especialmente após tensões recentes com os Estados Unidos. Para o jornalista Antônio Martins, a postura de Trump indica uma tendência agressiva em proteger o mercado interno dos EUA e manter a supremacia americana no comércio mundial, restringindo as opções dos países do BRICS de fortalecerem suas próprias economias de maneira independente.
O Brasil, por exemplo, que atualmente tem Estados Unidos e China como seus principais parceiros comerciais, está em uma posição delicada. O país tem tentado diversificar suas relações econômicas e explorar possibilidades de uma parceria estratégica com a China dentro do BRICS, como destacou Martins. Contudo, o eventual governo Trump ameaça essa abertura ao impor obstáculos tarifários a produtos de países que ousarem transitar para um sistema financeiro menos dependente do dólar, o que dificultaria o avanço dessa parceria.
Além disso, Trump sinalizou uma revisão nos gastos com a OTAN, sugerindo que os aliados europeus assumam maior responsabilidade financeira pela defesa mútua. Isso pode gerar um impacto indireto sobre a Ucrânia, que enfrenta conflitos com a Rússia e depende fortemente do apoio ocidental. Caso Trump realmente reduza o apoio, o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky poderá se ver forçado a buscar uma solução diplomática para o conflito, o que mudaria significativamente o panorama das tensões no leste europeu.
Trump também se mostrou disposto a favorecer grandes indústrias americanas, especialmente as de defesa e tecnologia, e a enfrentar abertamente a China, seu principal alvo comercial. Para Glauco Faria, isso não só ampliaria o isolamento americano, mas também reforçaria o modelo de economia belicista dos Estados Unidos. Trump tem o apoio de figuras influentes do setor de tecnologia e defesa, como Elon Musk, e pretende direcionar investimentos para a indústria militar, enquanto reduz os recursos destinados a alianças e tratados internacionais.
O cenário futuro para o BRICS, em um contexto de retorno de Trump à presidência, seria de maior pressão para se manter alinhado ao dólar e de obstáculos para a expansão de um sistema de comércio alternativo. O grupo, que já enfrenta desafios internos, deverá buscar estratégias de fortalecimento e cooperação, aproveitando o interesse da China em expandir sua influência econômica em países como o Brasil. Por outro lado, a vitória de Trump traria um novo impulso para as discussões sobre soberania econômica e a importância de alianças multilaterais para enfrentar o protecionismo e a agressividade econômica de Washington.
Enquanto a China busca novos mercados para escoar sua produção excedente e expandir sua liderança em tecnologia, o Brasil se vê diante de uma oportunidade de avançar no campo da inovação e tecnologia sustentável, cooperando com a China para o desenvolvimento mútuo e independência tecnológica. Segundo Martins, uma aproximação mais estratégica com a China e o BRICS pode ser uma solução para o Brasil, mas exigirá uma postura mais assertiva do governo brasileiro.
A vitória de Trump não representa apenas uma questão de tarifas ou políticas externas dos EUA; ela pode simbolizar a resistência de um império em decadência, utilizando todas as ferramentas — da violência bélica à econômica — para manter seu domínio. Para o Brasil e outros membros do BRICS, resta o desafio de se equilibrar diante de uma superpotência que tende a reagir de maneira cada vez mais hostil às mudanças no tabuleiro global.
Assista à entrevista completa: https://youtube.com/live/0JAEaMXDpPM
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