Estragos e prejuízos aos moradores causados pelas chuvas em Belford Roxo, na Baixada Fluminense, que teve diversos pontos de alagamentos com...
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Estragos e prejuízos aos moradores causados pelas chuvas em Belford Roxo, na Baixada Fluminense, que teve diversos pontos de alagamentos com a enchente do rio Botas (Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil) |
No ano passado, 1.161 ocorrências foram mapeadas pelo Cemaden; impactos das mudanças climáticas são ainda mais severos para pessoas em áreas de risco
Por Nayara Machado - EPBR
Confirmado pelos cientistas como o ano mais quente já registrado, 2023 deixou sua marca no Brasil: por aqui, também foi um período de recorde de desastres relacionados ao clima, como deslizamentos, inundações e secas.
No ano passado, 1.161 eventos foram mapeados pelo Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), unidade de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI).
Desse total, 716 ocorrências estavam associadas a eventos hidrológicos, como transbordamento de rios. Outras 445 tiveram origem geológica, como deslizamentos de terra.
Segundo o Cemaden, os números superam 2022 e 2020.
“O ano de 2023 foi peculiar em relação ao clima. Em meados do ano, houve uma transição rápida do fenômeno La Niña para o El Niño. Isso ocasionou uma mudança no padrão das chuvas em relação à média histórica. Os índices de chuva registrados em 2023 foram muito superiores no Sul e inferiores no Norte e Nordeste”, avalia a diretora do Cemaden, Regina Alvalá.
Ela explica que a mudança do clima também contribuiu para todo esse processo, já que o oceano mais quente aumenta o volume de vapor de água na atmosfera, intensificando as chuvas.
O balanço dos impactos climáticos sobre as cidades brasileiras foi apresentado durante uma reunião do centro de pesquisa na semana passada (17/1).
Os pesquisadores destacam que as ocorrências seguem o padrão de envios de alertas, com concentração nas capitais e regiões metropolitanas do leste do país – isto é, o litoral.
A região costeira do Brasil, especialmente a faixa que vai da Bahia até o Rio Grande do Sul, concentra a maior parte das ocorrências e alertas. O topo do ranking, no entanto, foi ocupado por Manaus, que após uma seca recorde, passou por uma temporada de chuvas intensas.
Prejuízos são humanos, materiais e econômicos
Esses eventos deixaram um rastro de 132 mortes, 9,2 mil feridos, 74,7 mil desabrigados e 525 mil desalojados, segundo o MCTI, afetando principalmente pessoas com menos recursos e em áreas de risco.
De acordo com a Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil, há pelo menos 10 milhões de pessoas morando em áreas de risco no Brasil, onde os impactos das mudanças climáticas são ainda mais severos.
Na semana passada, ao comentar as chuvas que levaram o estado do Rio de Janeiro a decretar emergência em 12 municípios, a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, observou que as tragédias expressam também o racismo ambiental, algo que populações vulneráveis do mundo todo vêm alertando há algum tempo.
Em termos de danos materiais, o Cemaden aponta para mais de R$ 5 bilhões em obras de infraestrutura e instalações públicas e unidades habitacionais. Já os prejuízos econômicos são estimados em quase R$ 25 bilhões, somados gastos públicos e privados.
2024 tem mais
O ano virou, mas as chuvas continuam – e o calor também. A previsão da Organização Meteorológica Mundial (OMM) é que 2024 seja ainda mais quente do que 2023.
No Brasil, as tempestades de janeiro deixaram milhares de pessoas sem energia no Rio Grande do Sul, além de 4 mortos e 545 desabrigados no estado de São Paulo.
Na segunda (22/1), o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) informou que até sexta-feira (26), praticamente toda a região Nordeste terá registro de chuvas volumosas, que podem acumular mais de 100 mm, de domingo (21) a sexta-feira. E as chuvas mais expressivas devem atingir, principalmente, os estados da Bahia, Piauí e Ceará.
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