Efeito Dominó: S&P corta nota do BRB para 'B-'

Entidade faz um alerta para colapso na governança após liquidação do Banco Master - Foto: Paulo H. Carvalho/Agência Brasília Agência de clas...

Entidade faz um alerta para colapso na governança após liquidação do Banco Master - Foto: Paulo H. Carvalho/Agência Brasília

Agência de classificação de risco coloca banco estatal em observação negativa (CreditWatch), citando exposição a ativos tóxicos e afastamento da diretoria executiva em meio à Operação Compliance Zero

A crise institucional que atinge o sistema financeiro regional ganhou um novo capítulo nesta quarta-feira (19). A S&P Global Ratings rebaixou a nota de crédito do Banco de Brasília (BRB) de ‘B’ para ‘B-’, colocando a instituição em CreditWatch negativo — um sinal amarelo para o mercado de que novos cortes podem ocorrer no curto prazo.

A decisão reflete a reação imediata do mercado à liquidação extrajudicial do Banco Master, decretada pelo Banco Central na última terça-feira (18), e aos desdobramentos da Operação Compliance Zero da Polícia Federal. A agência de risco avalia que o contágio da crise no Master expôs fragilidades severas na gestão de riscos e na governança corporativa do banco público do Distrito Federal.

O fator "Compliance Zero" e a governança em xeque

O relatório da S&P é contundente ao apontar que a estratégia de expansão do BRB cobrou um preço alto. A Operação Compliance Zero, que investiga fraudes na originação de carteiras de crédito do Banco Master, atingiu em cheio o BRB, que atuou como um dos principais compradores desses ativos no mercado secundário.

A situação se agravou com a determinação judicial que afastou cautelarmente o CEO e o CFO do BRB por 60 dias. Para os analistas da S&P, esse vácuo de liderança em um momento crítico aprofunda a instabilidade.

"Os eventos recentes aumentam substancialmente as preocupações sobre o apetite de risco e a governança do BRB. A instituição adotou práticas agressivas de compra de carteiras para inflar receitas em um curto espaço de tempo", destaca trecho do relatório da agência.

A matemática do risco e exposição bilionária

O mercado financeiro reage com apreensão aos números apresentados. No primeiro semestre de 2025, o BRB adquiriu cerca de R$ 18,6 bilhões em carteiras de crédito de terceiros. O volume exato da "fatia tóxica" originada pelo Banco Master ainda é desconhecido, mas a desproporção em relação ao tamanho do banco assusta investidores:

• Carteira Total (Jun/25): R$ 59,4 bilhões
• Patrimônio Líquido (Jun/25): R$ 3,9 bilhões
• Carteiras Adquiridas (1º Sem/25): R$ 18,6 bilhões

A relação entre o volume de créditos comprados e o patrimônio líquido sugere uma alavancagem arriscada, deixando o banco vulnerável caso haja necessidade de impairment (baixa contábil) desses ativos sob investigação.

Rentabilidade "artificial" e pressão operacional

Embora o balanço do primeiro semestre de 2025 mostre um lucro líquido de R$ 510 milhões (com um ROE anualizado de 26%), a S&P alerta para a qualidade desse resultado. A agência classifica o lucro como dependente de "receitas extraordinárias", fruto justamente da cessão e estruturação dessas carteiras agora sob suspeita.

Ao "limpar" os efeitos não recorrentes, a rentabilidade estrutural do BRB despenca para patamares próximos a 2024, quando o Retorno sobre o Patrimônio (ROE) foi de apenas 6,2%. Isso indica que a operação bancária tradicional (margem financeira com clientes e crédito consignado) segue pressionada e com baixa eficiência.

Cenário prospectivo: 50% de chance de novo corte

A manutenção do rating em CreditWatch negativo indica que a S&P vê 50% de probabilidade de rebaixar a nota novamente nos próximos 90 dias. Os gatilhos para essa decisão incluem:

1. Deterioração da Liquidez: Fuga de investidores ou dificuldade de captar recursos no interbancário (CDI).
2. Confirmação de Perdas: Materialização de prejuízos com a carteira do Banco Master.
3. Dano Reputacional: Perda de confiança dos depositantes e do governo local (GDF) na instituição.

O mercado agora aguarda os próximos passos do Banco Central e da intervenção na gestão do BRB para mensurar se o banco terá capital suficiente para absorver o impacto da liquidação do Master sem necessitar de aporte do Tesouro distrital.