Preços recuam na margem; energia e salários pesam. Superávit ajuda a indústria e o IPCA de agosto deve ser negativo.
IGP-DI surpreende para baixo; energia e mão de obra ainda pressionam a indústria
A semana começa com o mercado olhando para um conjunto de indicadores que, juntos, ajudam a calibrar preços, juros e expectativas para o setor produtivo. A FGV informou que o IGP-DI avançou 0,20% em agosto, bem abaixo da mediana das projeções e acumulando queda de 1,62% no ano e alta de 3,00% em 12 meses. A leitura reforça um quadro de desinflação gradual no atacado e no varejo, apesar de pressões pontuais, e dialoga com a análise econômica da FIEG (08/09), que já destacava a inflação no centro do radar dos investidores. (IBRE, CNN Brasil)
No lado do consumidor, a prévia semanal (IPC-S) registrou nova deflação na 1ª quadrissemana de setembro (-0,20%), com alta de 2,90% em 12 meses. A dinâmica ajuda a acomodar preços na margem e reforça a perspectiva – mencionada pela FIEG – de um IPCA de agosto negativo, movimento que o consenso já projeta em torno de -0,15% e que tende a ser turbinado pelo “bônus de Itaipu” na conta de luz. O IBGE já mostrou esse efeito na prévia do IPCA (IPCA-15) de agosto, -0,14%, com moradia em queda e energia como vetor de alívio. (IBRE, Poder360, Agência Brasil)
Há, porém, um contraponto relevante de custo: a bandeira tarifária vermelha patamar 2 foi mantida para setembro pela Aneel, o que adiciona R$ 7,87 a cada 100 kWh consumidos. Para a indústria eletrointensiva e para o comércio, a energia mais cara pressiona margens justamente quando a demanda doméstica ainda cede passo. (Agência Brasil)
Custos da construção seguem pressionados
No canteiro de obras, o INCC-DI subiu 0,52% em agosto, com destaque para a mão de obra, fator citado pela FIEG como o principal motor do avanço. No recorte da FGV, materiais e serviços desaceleraram, mas o componente de trabalho seguiu puxando o índice. Para construtoras e fornecedores, esse quadro mantém atenção redobrada na gestão de contratos e repasses. (IBRE)
Comércio exterior amortece: China compra mais, saldo melhor que o esperado
Pelo setor externo, o Brasil registrou superávit comercial de US$ 6,13 bilhões em agosto, acima do esperado, com exportações para a China crescendo perto de 30% frente a agosto de 2024 – um respiro para a pauta industrial e agroindustrial, apesar da desaceleração do gigante asiático. (Balança Comercial, IstoÉ Dinheiro)
Do lado da demanda global, a China teve superávit de US$ 102,3 bilhões em agosto, mas com perda de fôlego em exportações e importações, refletindo tarifas e incertezas geopolíticas – exatamente os riscos que a FIEG monitora para a indústria brasileira (preços de insumos, metalurgia, químicos e máquinas). (Reuters)
Estados Unidos: mercado de trabalho perde tração
Nos EUA, o relatório Payroll mostrou abertura de apenas 22 mil vagas em agosto, abaixo do consenso, além de revisões para baixo em meses anteriores. O quadro de arrefecimento vem em meio a mudanças no comando do BLS, tema que gerou debate sobre a independência técnica do órgão. Para a indústria brasileira, um ciclo de desaceleração americana tende a reduzir pressão sobre juros globais e dólar-comercial, mas também pode moderar pedidos de exportação manufatureira. (InfoMoney, Bureau of Labor Statistics)
O que isso significa para o setor produtivo/industrial
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Preços e repasses: a combinação de IGP-DI fraco e IPC-S negativo favorece negociações na cadeia (commodities, embalagens, logística). Mas energia em bandeira vermelha 2 e mão de obra ainda pressionando o INCC limitam a descompressão de custos. Empresas com maior intensidade elétrica e folha robusta tendem a sentir mais. (IBRE, Agência Brasil)
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Demanda interna: com IPCA de agosto projetado em deflação e renda real sustentada, varejo essencial e bens duráveis de tíquete médio podem ter algum alívio. A leitura oficial do IBGE sai na quarta (10/09), balizando reajustes e promoções do fim do mês. (Poder360)
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Comércio exterior e câmbio: o superávit acima do esperado e o impulso da China ajudam a sustentar produção ligada a agro e mineração, com transbordamento para encadeamentos industriais (máquinas, químicos, transporte). Ainda assim, os sinais de desaceleração chinesa pedem cautela em planos de capacidade para o 4º tri. (Balança Comercial, IstoÉ Dinheiro, Reuters)
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Juros e financiamento: a leitura mais benigna de preços, em contraste com choques de energia, tende a reforçar a mensagem de Selic estável por período prolongado nos principais relatórios de mercado. Isso preserva o custo de capital elevado, exigindo disciplina em capital de giro e seleção de projetos. (InfoMoney)
Em linha com a FIEG: pontos para acompanhar nos próximos dias
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IPCA de agosto: magnitude da deflação e contribuição do bônus de Itaipu em Habitação; 2) Sinais da China em preços ao consumidor e empréstimos após o tombo de julho; 3) Energia: persistência da bandeira vermelha 2 e eventual impacto sobre inflação de setembro. Esses vetores vão ditar apetite a risco, curva de juros e estratégia de preços no setor industrial. (Agência Brasil, Reuters)
Em resumo: o quadro de preços ao produtor e ao consumidor segue melhor do que há alguns meses e deve aliviar parte das pressões de curto prazo, mas energia cara e custos de trabalho ainda desafiam margens. Ao mesmo tempo, o comércio exterior continua sendo um amortecedor crucial, enquanto EUA e China em ritmo mais lento pedem prudência nas decisões de produção e investimento.
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