Brasil enfrenta incertezas fiscais e comerciais, com indústria em queda e tensões políticas. Lei da Reciprocidade e China moldam cenário econômico.
Crescimento chinês e inflação benigna moldam boas perspectivas frente a ameaças norte americanas
A economia brasileira enfrenta um cenário de incertezas em 2025, marcado por impasses fiscais, tensões comerciais internacionais e um desempenho setorial misto, conforme análise econômica da Federação das Indústrias do Estado de Goiás (FIEG) de 16 de junho de 2025. A combinação de fatores domésticos, como a aprovação da PEC dos Precatórios e o aumento do IOF, e externos, como a escalada protecionista dos Estados Unidos e o crescimento chinês, cria desafios para o setor industrial, que já registra recuo em maio, segundo o Monitor do PIB da FGV.
Desempenho Econômico e Setorial
De acordo com a FIEG, a atividade econômica brasileira avançou 0,3% em maio frente a abril, impulsionada pelo setor de serviços, que apresentou expansão generalizada, exceto no comércio. No entanto, a agropecuária e a indústria registraram retração, com o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) recuando 0,74% no mesmo período, abaixo das projeções de mercado (-0,5%). Na comparação anual, o crescimento foi de 3,2%, mas a desaceleração mensal reforça a percepção de perda de dinamismo, especialmente na indústria.
A CNN Brasil destaca que a economia brasileira enfrenta pressões adicionais devido à alta do dólar, que fechou 2024 a R$ 6,18, impactando os custos de importação e elevando o risco de inflação. O setor industrial, que depende de insumos importados, como máquinas e peças aeronáuticas, sofre com o aumento dos custos, o que pode comprometer sua competitividade, conforme apontado por especialistas da CNN. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) estima que as tarifas de 50% impostas pelos EUA, previstas para entrar em vigor em agosto, podem custar até 110 mil empregos diretos e impactar o PIB e a balança comercial.
Contexto Fiscal e Político
No âmbito fiscal, a aprovação em primeiro turno da PEC dos Precatórios pela Câmara, que prevê a incorporação gradual desses passivos à meta fiscal a partir de 2027, busca aliviar as contas públicas, mas enfrenta resistência. A proposta é vista como uma tentativa de equilibrar a sustentabilidade fiscal com as pressões políticas pré-eleitorais de 2026, conforme análise da Omni. No entanto, a falta de acordo na audiência de conciliação no STF sobre o aumento do IOF, mediada por Alexandre de Moraes, expôs tensões entre o Executivo e o Legislativo, dificultando a implementação de políticas fiscais coordenadas. A FGV aponta que o aumento do IOF tem caráter regressivo, impactando desproporcionalmente tomadores de crédito e setores intensivos em capital.
O cenário político, marcado pela proximidade das eleições de 2026, intensifica as incertezas. A análise da Omni sugere que as decisões econômicas estão sendo condicionadas por prioridades eleitorais, com risco de aumento do gasto público para atrair apoio político, o que pode elevar a dívida pública bruta e pressionar variáveis como inflação e taxa de câmbio. Posts no X reforçam o debate, com críticas à ausência de um plano robusto de reindustrialização no governo Lula, apontando para a desindustrialização e a dominância do rentismo financeiro.
Tensões Comerciais e a Lei da Reciprocidade
No front externo, a Lei da Reciprocidade Econômica, regulamentada por decreto em 14 de julho de 2025, surge como resposta à política protecionista de Donald Trump, que impôs tarifas de 50% às exportações brasileiras. A medida, liderada pelo vice-presidente Geraldo Alckmin, busca proteger setores estratégicos, mas é criticada por especialistas devido ao risco de "efeito rebote". Carlos Eduardo Carvalho, da PUC-SP, alerta que uma escalada comercial com os EUA poderia desmoralizar o Brasil internacionalmente e agravar divisões internas, enquanto Leonardo Neves, da Constância Investimentos, considera a retaliação uma estratégia arriscada, dado que o Brasil depende mais dos EUA do que o contrário. A CNI reforça a necessidade de diálogo para evitar um cenário de "perde-perde".
A Mattos Filho aponta que a Lei da Reciprocidade Econômica pode gerar insegurança jurídica em setores como tecnologia e audiovisual, devido à possibilidade de alterações em alíquotas como a Cide-Tecnologia e a Condecine, violando o princípio da legalidade tributária. Enquanto isso, o crescimento de 5,2% do PIB chinês no segundo trimestre e o superávit comercial de US$ 114,77 bilhões em junho indicam que a China pode ser uma alternativa para diversificar mercados, embora analistas alertem para os impactos de uma guerra comercial EUA-China na América Latina.
Perspectivas e Inflação
A FIEG projeta um cenário inflacionário benigno para o segundo semestre, com a valorização do real e a queda nos preços das commodities contribuindo para a deflação do IGP-10 em julho, após a segunda maior deflação mensal do século registrada pelo IGP-DI em junho. O IPCA também mostra sinais de arrefecimento, com queda na difusão e nos núcleos de inflação.
A Secretaria de Política Econômica (SPE) prevê uma inflação de 4,8% em 2025, com destaque para a queda nos preços de alimentos, impulsionada por uma safra recorde de 325 milhões de toneladas. Contudo, a valorização do dólar e os choques climáticos podem manter pressões inflacionárias, especialmente em setores dependentes de importações.
Desafios fiscais e políticos pressionam economia brasileira
O setor industrial brasileiro enfrenta um enorme desafio, com a retração da atividade econômica, agravada por incertezas fiscais e tensões comerciais. A PEC dos Precatórios e o aumento do IOF refletem esforços para equilibrar as contas públicas, mas a falta de consenso político e a proximidade das eleições de 2026 complicam o cenário.
A Lei da Reciprocidade Econômica, embora estratégica, traz riscos de escalada comercial com os EUA, enquanto a China surge como uma alternativa para mitigar impactos. A resiliência da economia dependerá da capacidade do governo de negociar no cenário internacional e implementar políticas que promovam a reindustrialização e a competitividade, em meio a um ambiente político polarizado.
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