O Papa Leão XIV é retratado erroneamente como progressista, enquanto sua postura se alinha à tradição conservadora da Igreja Católica e sua doutrina.
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A escolha do novo Papa gera confusão midiática, revelando erros graves na interpretação de sua encíclica e posicionamento - Fotos: Narcin Mazur/cbcew.org.uk |
Contrário à noção de um Papa progressista, Leão XIV se alinha a uma tradição conservadora da Igreja, desafiando expectativas de mudança
A eleição do novo Papa Leão XIV, Robert Prevost, trouxe à tona uma série de erros e desinformação por parte de jornalistas e da imprensa, que, baseados em leituras superficiais de fontes como a Wikipédia, tentaram caracterizá-lo como um pontífice progressista, alinhado à filosofia de esquerda do Papa Francisco. Essa interpretação, segundo o historiador Fernando Horta, é não apenas equivocada, mas também perigosa, pois ignora o contexto histórico e as ações concretas do novo líder da Igreja Católica.
A gafe da Rerum Novarum
Um dos maiores equívocos foi a associação do Papa Leão XIV à encíclica Rerum Novarum (1891), promulgada por Leão XIII, como suposta evidência de um perfil progressista. Jornalistas, apelidados por Horta de "jornalistas de Wikipédia", citaram a encíclica como base para afirmar que Leão XIV seguiria uma doutrina social de esquerda, vinculada à luta de classes.
Essa interpretação é um erro crasso. A Rerum Novarum foi, na verdade, um documento estratégico da Igreja para combater o avanço do socialismo e da sindicalização no final do século XIX. Longe de ser marxista, a encíclica nega a luta de classes, condena o socialismo como "invejoso" e defende a propriedade privada, propondo um "caminho do meio" que preserva o capitalismo, ainda que critique seus excessos mais brutais, como a usura bancária.
Horta destaca trechos do documento, como: "O erro capital é crer que as duas classes são inimigas natas uma da outra", para mostrar que a Rerum Novarum rejeita a base do pensamento de esquerda, promovendo a conciliação entre patrões e operários sob uma ótica cristã que valoriza o trabalho como "enobrecedor", mas não questiona a exploração estrutural.
Essa visão, segundo o historiador, influenciou movimentos como a democracia cristã, que, na Europa, apoiou regimes fascistas e nazistas no século XX. Associar Leão XIV a essa encíclica como sinal de progressismo é, portanto, uma distorção histórica.
Leão XIV não é progressista como dizem
A tentativa de rotular Leão XIV como um papa de esquerda é, nas palavras de Horta, "uma neura sem tamanho". A escolha do nome Leão, historicamente ligado a papas que enxergavam a Igreja em guerra contra ameaças externas, sugere um perfil combativo, distante do pastoralismo conciliador de Francisco.
Enquanto Francisco escolheu seu nome inspirado em São Francisco de Assis, um símbolo de humildade e proximidade com os pobres, Leão XIV remete a figuras como Leão I, que enfrentou Átila, e Leão XIII, que combateu o socialismo. Essa simbologia indica uma postura defensiva, possivelmente voltada contra movimentos progressistas, como os de direitos LGBTQIAPN+ ou a esquerda global.
Horta alerta que o novo papa, um norte-americano de 69 anos, pode ter um papado longo e conservador, com potencial para se alinhar a figuras como Donald Trump, que já o saudou publicamente. Declarações do irmão de Leão XIV, sugerindo um papado "nem de esquerda, nem de direita", reforçam a percepção de que sua neutralidade aparente mascara uma inclinação direitista, comum em discursos que evitam posicionamentos claros.
Por que fomos enganados? (A desinformação midiática)
A desinformação sobre Leão XIV decorre da falta de preparo de jornalistas, que, sem conhecimento histórico, recorreram a verbetes mal redigidos da Wikipédia, como o que descreve a Rerum Novarum como parte da "doutrina social da igreja", confundindo o termo "social" com esquerda.
Horta critica a ausência de especialistas em história nas coberturas jornalísticas, o que levou à replicação de erros em cadeia, inclusive por veículos de esquerda. Essa superficialidade transformou Leão XIV em um "cavalo de Troia", apresentado como progressista enquanto suas ações sugerem um conservadorismo perigoso.
A dependência de jornalistas em informações da Wikipédia, sem uma investigação mais profunda, resultou em uma cobertura rasa e errônea. Essa falta de rigor pode enganar o público e distorcer a imagem da Igreja Católica e de seus novos líderes.
Polêmicas e críticas ao novo Papa
Robert Prevost enfrentou críticas por sua gestão em Chicago e no Peru, especialmente no que tange às denúncias de abuso sexual. A forma como ele lidou com essas questões levanta dúvidas sobre sua capacidade de liderar a Igreja em tempos tão conturbados. Para uma análise mais profunda sobre essas polêmicas, Horta convida o público a assistir a suas discussões no YouTube.
Dúvidas sobre o futuro
Horta lança questionamentos sobre as ações futuras de Leão XIV, sugerindo que ele pode intensificar o combate a movimentos sociais e progressistas, como os de direitos LGBTQIAPN+ e a esquerda global, incluindo líderes como Lula no Brasil.
A escolha de um papa jovem, com potencial para um papado de duas décadas, e a retomada do nome Leão indicam um projeto de longo prazo para fortalecer o conservadorismo católico, possivelmente em aliança com figuras como Trump.
A próxima encíclica do papa será determinante para confirmar essas intenções, mas os sinais iniciais são preocupantes.
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A encíclica Rerum Novarum é mal interpretada como apoio à luta de classes, desconsiderando sua intenção conservadora |
A Igreja nunca foi de esquerda
Horta encerra enfatizando que a Igreja Católica, como instituição, nunca foi de esquerda. Exceto por movimentos como a Teologia da Libertação, representada por figuras como Leonardo Boff, que foram perseguidas pela própria Igreja, o catolicismo historicamente alinhou-se aos poderosos, legitimando reis, nobres e, mais recentemente, o capitalismo.
A Rerum Novarum é um exemplo dessa estratégia, oferecendo críticas pontuais à exploração para evitar revoluções, mas mantendo a ordem estabelecida. Leão XIV, longe de ser um sucessor de Francisco, parece destinado a reforçar essa tradição conservadora, exigindo cautela de movimentos progressistas em todo o mundo.
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