Bolsonaristas tentam reescrever história, negando pedidos de golpe, enquanto neto de ditador promete retorno ao poder em 2027.
![]() |
Paulo Figueiredo Filho é neto do ex-presidente João Batista Figueiredo, que foi o último mandatário da ditadura militar | Arquivo - Reproduç]ap/X/realpfigueiredo |
Alcolumbre reforça importância de evitar radicalismos e defende imparcialidade do Judiciário
Em meio ao cenário político conturbado, bolsonaristas têm sido alvo de críticas por tentarem reescrever a história, negando terem apoiado ou pedido um golpe de Estado durante o governo de Jair Bolsonaro. A contradição fica evidente ao se observar as inúmeras manifestações públicas, faixas e discursos que, desde 2019, defendiam a intervenção militar e a aplicação do artigo 142 da Constituição, visto por muitos como uma tentativa de justificar um golpe. Agora, esses mesmos apoiadores afirmam que as acusações de tentativa de golpe são uma "ficção" criada pelo Procurador-Geral da República, Paulo Gonet.
Gonet, aliás, é uma figura que ganhou destaque recentemente após denunciar Bolsonaro por suposta tentativa de golpe. Curiosamente, o nome de Gonet foi indicado em 2019 pela deputada Bia Kicis, uma das mais ferrenhas bolsonaristas, para ocupar o cargo de Procurador-Geral da República. Na época, Kicis elogiou o perfil "técnico, conservador, pró-família e pró-vida" de Gonet, destacando que ele não seria um "ativista progressista". No entanto, Bolsonaro optou por Augusto Aras, que se mostrou um aliado ao arquivar investigações contra o governo, incluindo casos de corrupção e roubalheira
Enquanto os bolsonaristas tentam se distanciar das acusações de golpismo, o neto do ex-ditador João Batista Figueiredo, também denunciado pela PGR, protagonizou um surto em uma live, afirmando que retornará ao Brasil em 2027 para assumir o Ministério da Defesa.
Em declarações polêmicas, ele prometeu "limpar o Exército de Caxias" e expulsar os "vagabundos carreiristas", enquanto desmerecia o próprio exército que chamou de "Frajola".
Atacou com toda a força o general do exército Tomás Ribeiro Paiva, comandante do Exército durante o governo Bolsonaro, por ter defendido a democracia contra o golpe.
O tom ameaçador e a nostalgia do regime militar chamaram a atenção, especialmente em um momento em que o país tenta superar os resquícios autoritários de sua história.
A tentativa de reescrever o passado recente não passa despercebida. Durante o governo Bolsonaro, foram registradas mais de mil manifestações pedindo intervenção militar, muitas delas filmadas e amplamente divulgadas.
Em setembro de 2021, o próprio ex-presidente, em discurso no Dia da Independência, incitou a população contra o Supremo Tribunal Federal (STF) e o ministro Alexandre de Moraes, chegando a dizer que não cumpriria mais as decisões do STF. A plateia, em coro, gritava "eu autorizo", em referência a um possível golpe militar.
Agora, figuras como o deputado federal Nicolas Ferreira e o ex-presidente Jair Bolsonaro tentam desqualificar as denúncias de golpismo, classificando-as como "ficção". No entanto, especialistas e analistas políticos destacam que a tentativa de golpe em 2022/23 só não se concretizou devido à resistência de comandantes militares, como o general Freire Gomes, que se opuseram veementemente à ideia.
![]() |
Presidente do Senado Federal, senador Davi Alcolumbre (União-AP), concede entrevista coletiva à imprensa. - Foto: Jonas Pereira/Agência Senado |
O senador Davi Alcolumbre, em declaração recente, reforçou a importância de se evitar radicalismos e confiar no Judiciário para resolver as questões dentro da legalidade.
"Nosso país não precisa mais desses embates de radicalismo", afirmou Alcolumbre em coletiva de imprensa, destacando a necessidade de imparcialidade e cautela no tratamento desses temas.
"Quando a gente fala desse assunto (PL da Anistia) a todo instante, a gente está dando de novo a oportunidade de nós ficarmos, na nossa sociedade, dividindo", conclui o senador sobre anistia a golpistas do 8 de janeiro.
Questionado sobre a denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) contra Jair Bolsonaro, o presidente do Senado afirmou que todo cidadão tem direito a defesa e contraditório, que confia no Judiciário, e que o país não precisa de “embates de radicalismo nem do lado nem do outro”.
Enquanto isso, a sociedade brasileira assiste ao desenrolar desse capítulo da política nacional, marcado por contradições, revisionismo histórico e declarações que beiram o surreal.
A tentativa de negar o passado recente e a promessa de um retorno ao poder de figuras ligadas ao regime militar mostram que os fantasmas autoritários ainda assombram o país. Resta saber se a Justiça e as instituições democráticas conseguirão resistir a mais essa investida.
COMENTAR