PL adota postura intransigente e impõe aos parlamentares rejeição automática a projetos da base governista, provocando cisão interna na legenda.
Esses mesmos parlamentares poupam o presidente Valdemar Costa Neto e atribuem a atitude a parlamentares alinhados ao bolsonarismo | Foto: Beto Barata / PL |
Em meio à crescente rejeição ao extremismo político, parlamentares moderados abandonam o PL alegando pressão bolsonarista; partido minimiza debandada e nega motivações ideológicas
A recente debandada de deputados federais do Partido Liberal (PL) sinaliza uma mudança significativa no cenário político brasileiro, onde o extremismo político parece perder força diante de uma crescente demanda por moderação. A saída de pelo menos cinco parlamentares da legenda que abriga o ex-presidente Jair Bolsonaro evidencia um movimento de distanciamento do radicalismo que marcou a política nacional nos últimos anos.
Os deputados que deixaram o partido compartilham uma característica comum: a busca por um posicionamento mais moderado e a resistência à imposição de uma agenda exclusivamente bolsonarista. O caso do deputado Samuel Viana, agora no Republicanos, é emblemático. Segundo ele, a pressão da chamada direita "raiz" criou um ambiente interno insustentável, onde parlamentares eram forçados a uma oposição sistemática a qualquer proposta originada da esquerda.
A mudança de comportamento político não é isolada. Uma pesquisa recente da Quaest revelou que 86% dos brasileiros repudiam os atos de vandalismo contra as sedes dos três poderes, ocorridos em janeiro de 2023, indicando um claro rechaço a práticas extremistas. Este dado sugere uma transformação significativa na percepção do eleitorado brasileiro sobre o radicalismo político.
O cenário que se desenha para as eleições de 2026 aponta para a necessidade de adaptação no discurso político. Candidatos que antes apostavam em uma retórica mais radical podem precisar modular seu posicionamento para dialogar com um eleitorado que demonstra preferência por propostas mais equilibradas e construtivas.
"Ou você aceita o que diz o bolsonarismo ou você é considerado um 'comunista do PL'", relatou Samuel Viana à Folha de São Paulo, ilustrando o dilema enfrentado por políticos que buscam uma atuação mais independente. Esta polarização extrema, que já foi marca registrada da política nacional, parece perder força diante de um eleitorado mais crítico e menos receptivo a posicionamentos radicais.
A desfiliação em cadeia do PL inclui parlamentares de diferentes regiões do país: Samuel Viana, que migrou para o Republicanos-MG; os cearenses Yury do Paredão, hoje no MDB, e Junior Mano, que se filiou ao PSB; além de Luciano Vieira, que se transferiu para o Republicanos-RJ. O deputado Robinson Faria, do Rio Grande do Norte, também sinalizou sua saída em 2024, mas não respondeu às tentativas de contato da reportagem para esclarecer sua situação atual no partido.
Ao lado de Cid e João Campos, Júnior Mano publicou foto anunciando filiação ao PSB | Foto: Reprodução/Instagram João Campos |
O movimento de parlamentares em direção a partidos mais moderados pode ser interpretado como um termômetro das próximas eleições. A capacidade de diálogo e a busca por consensos, antes vistas como sinais de fraqueza por determinados grupos políticos, ressurgem como atributos valorizados pelo eleitorado.
O PL, que atualmente conta com 93 deputados federais, após ter elegido 99 em 2022, enfrenta o desafio de equilibrar suas diferentes correntes internas. Enquanto a direção do partido, através de nota, minimiza as saídas atribuindo-as a "motivos regionais ou pessoais", os deputados que deixaram a legenda apontam claramente para questões ideológicas e de posicionamento político como motivadores principais.
Para as eleições de 2026, este cenário sugere uma possível reconfiguração do campo político conservador, com espaço crescente para posições mais moderadas e propositivas, em detrimento do radicalismo que marcou os últimos ciclos eleitorais. A adaptação dos discursos e práticas políticas a esta nova realidade pode ser determinante para o sucesso eleitoral dos candidatos.
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