O ex-presidente Lula sabe que esta eleição será a mais acirrada de nossa história. A equipe de Bolsonaro já o prepara para o último debate T...

O ex-presidente Lula sabe que esta eleição será a mais acirrada de nossa história. A equipe de Bolsonaro já o prepara para o último debate
Texto escrito pelo jornalista Walter Brito
O ser humano é apaixonado por debates políticos. Provavelmente por isso a razão perde sempre para a emoção nos grandes confrontos da política, e uma palavra mal colocada em uma disputa política decide qualquer eleição em qualquer lugar no planeta Terra e não será diferente nos seis debates de TV, para os quais são convidados Jair Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva, o filho da dona Lindu. Desde a Grécia Antiga os debates fazem sucesso, até porque o nascimento da democracia se deu em Atenas em 508 a.C. Criava-se ali um novo e moderno sistema político. Certamente Sólon foi uma importante referência como estadista, poeta e grande debatedor dos problemas e soluções da Grécia antiga.

Kennedy venceu Nixon no debate e na eleição de 1960 nos EUA
No que diz respeito aos debates propriamente ditos entre dois líderes destacamos nesta reportagem os quatro debates que levaram John F. Kennedy ao pódio em 1960 nos EUA, tendo como adversário Richard Nixon. Dos quatro debates Kennedy venceu o primeiro que deu 70 milhões de expectadores na televisão, o mais importante. O segundo e terceiro foram vencidos por Nixon, mas com menor audiência. O quarto, que foi o principal e com menor expectadores que o primeiro. Este foi considerado empate entre os dois líderes. Logo, Kenedy venceu o pleito por ter vencido o primeiro e considerado pelos grandes analistas da época, de fato o mais importante.

Leonel Brizola e este jornalista Walter Brito, no segundo governo Brizola no Rio de Janeiro
Não podemos esquecer que o velho caudilho Leonel de Moura Brizola, ao voltar do exílio, candidatou-se no Rio de Janeiro para governador pelo PDT em 1982, quando, aos 27 anos de idade, eu tive o prazer de orientá-lo referente às pesquisas eleitorais quali/quantitativas, ocasião em que fazíamos pesquisas em todo o Estado do Rio para consumo interno. Brizola era o quinto nas pesquisas.
Com a chegada dos debates o ex-governador do Rio Grande do Sul foi comendo pelas beiradas e ultrapassando todos os candidatos que apareciam à sua frente, por meio de seus vastos argumentos nos debates do Rádio e na TV, e tornou-se o único político brasileiro a governar dois Estados. O Rio ele governou por dois mandatos. Um outro debate histórico entre a direita e a esquerda ocorreu entre os ex-governadores de Brasília, Cristovam Buarque, à época no PT, e Roriz, no MDB.
No último debate no Rádio e na TV, Cristovam, professor universitário, escritor, ex-reitor da UnB e com uma trajetória intelectual incontestável, perdeu para o fazendeiro e homem de poucas letras Joaquim Domingos Roriz. Tudo se confirmou quando Cristovam disse que o marqueteiro do fazendeiro, Duda Mendonça, estava com dificuldades em formular as perguntas para Roriz, por desconhecer os problemas de Brasília, portanto ele mesmo formularia perguntas mais objetivas para o governadorável (de poucas letras).
Com isso Roriz, com um copo d'água nas mãos e sua malícia de 'capicongo' goiano, começou a tremer suas mãos, o que deixou telespectadores da periferia, zona rural e Entorno de Brasília com pena do velho guerreiro da política goiana e na capital criada por JK. Quando muitos cientistas do alto de seus profundos conhecimentos anunciaram que o intelectual tinha vencido o homem do campo, a resposta nas urnas foi o contrário, pois Roriz venceu Cristovam Buarque. Isto confirma mais uma vez que numa disputa acirrada a emoção chega a atingir o patamar de 90% e a razão somente 10%, dizem especialistas da área.

Lula se perdeu no debate e Collor venceu o debate e a eleição
Por último citamos o debate entre Fernando Collor X Lula da Silva em 1989. Collor, que começou por baixo nas pesquisas, e depois cresceu com o apoio da TV Globo. Cresceu tanto que superou lideranças emblemáticas como Brizola, Ulysses Guimarães, Mário Covas, Afif Domigues, entre outros. Lula ganhou de Brizola em Minas e foi para o segundo turno contra o Caçador de Marajás. O ponto alto daquele debate histórico se deu quando Collor, de forma tranquila e serena, com uma farta e suposta documentação em mãos, insinuou que o ex-torneiro mecânico teria trazido do exterior um sofisticado equipamento de som que presentearia alguém especial. A partir dali o debatedor experiente forjado na luta sindical se perdeu e o filho de seu Arnon de Mello e da dona Leda Collor venceu o debate e a eleição.

Zema ao declarar apoio no segundo turno à reeleição de Bolsonaro para presidente da República
Acredito firmemente que apoios obtidos principalmente pelo governador reeleito de Minas Gerais, o Zema do Partido Novo, a Bolsonaro já fez a diferença no segundo turno. Ele que tinha tudo para apoiar Lula e foi para o colo do Bolsonaro. Soma-se ao apoio de Zema o do jovem nordestino JHC, prefeito de Maceió, que abandonou o seu PSB e o Lula para apoiar Bolsonaro.

Bolsonaro entre a senadora Eudócia Caldas e o prefeito de Maceió JHC. Acredita -se que o apoio do jovem prefeito de Maceió, poderá empurrar a juventude nordestina para o lado do Bolsonaro
Certamente foi uma facada certeira na esquerda. Ela é simbólica, mas também significativa, pois JHC é um representante da juventude do Nordeste na política. Foi duas vezes o mais votado deputado federal de Alagoas e agora prefeito da Capital. Filho de João Caldas, ex-deputado federal e quarto-secretário da Câmara. A mãe de JHC é a ex-prefeita de Ibateguara e atual senadora Eudócia Caldas. A juventude nordestina tende a diminuir a votação em Lula e migrar para Bolsonaro.
Certamente os dois apoios citados foram fundamentais para zerar o jogo no segundo turno, 20 dias antes do pleito, embora as pesquisas não digam o que aqui escrevo e o que penso como cientista político experimentado nos últimos 42 anos de luta. Claro, outros fatores contribuíram em menor escala: adesão do governador do Paraná, o Ratinho Júnior (PSD), também o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro do PL de Bolsonaro e, por último, o governador de São Paulo Rodrigo Garcia (PSDB).
Obviamente o apoio de um governador do Estado de São Paulo, carro-chefe da nação, é importante. Entretanto, boa parte de prefeitos do interior paulista de todos os cantos já apoiava Bolsonaro desde o primeiro turno, assim como parte significativa de paulistas e paulistanos.

Simone Tebet ( MDB) espera transferir os seus quase 5 milhões de votos para o ex-presidente Lula do PT. Pesquisas qualitativas indicam que não é bem assim - Foto: Ricardo Stuckert
Enquanto isso, Lula recebeu apoio de Chico Buarque e outros artistas importantes que sempre o apoiaram, nada novo, portanto, até aí. Por outro lado os 4.915 345 votos de Simone Tebet (MDB) não podem ser computados como se fossem de Lula. Ela não teve apoio sequer de seu partido na maioria quase que absoluta nos estados brasileiros. Sua votação razoável se deu por ser a mulher, a protagonista da eleição pós dois anos e meio de pandemia. Foi a mulher a psicóloga das 687 mil famílias que perderam seus entes queridos pela nefasta Covid 19.
Sabemos que nessa hora o homem não tem o mesmo equilíbrio da mulher. Foi ela também, principalmente a de menor poder aquisitivo, que é a maioria no Brasil, ou seja, a esposa do motorista de táxi por exemplo, que em São Paulo ganhava 15 mil reais por mês e passou a auferir apenas mil reais na alta pandemia. Sua esposa transformou-se em diarista, salgadeira, cuidadora de idosos, enfermeira de emergência, entre outras, para ajudar a colocar comida na mesa, muitas vezes mulheres sozinhas o fizeram. Portanto, os votos de Simone não pertencem a uma estrutura de poder e ficarão soltos no segundo turno.

A senadora dificilmente consegue transferir parcela significativa para o presidente Lula com o histórico relatado acima. Os 3.599.287 votos obtidos por Ciro Gomes (PDT), de acordo com pesquisas qualitativas, a maioria se identifica mais com o Bolsonaro do que com o Lula. Talvez por isso Ciro deixou o presidente do PDT, o ex-ministro Carlos Lupi sozinho e com a brocha nas mãos.
Neste sentido, os possíveis transferidores de votos apresentados por Lula, os economistas Pérsio Arida, Armínio Fraga, Pedro Malan, Edmar Bacha, além do engenheiro e meu coestaduano Henrique Meirelles, ex-presidente do Banco de Boston e Banco Central, de fato, são estrelas da economia nacional, o que não significa transferência de votos.
É só verificar com mais atenção, por exemplo, quantos milhões de reais que Henrique Meirelles investiu em sua frustrada campanha para a Presidência da República num passado não tão distante e o número de votos obtidos por ele. Outros personagens que declaram apoio a Lula são FHC e Joaquim Barbosa. Ambos, a capacidade de transferência de votos ficou no passado.
Fernando Henrique que num certo momento de nossa história foi derrotado por Jânio Quadros para a prefeitura de São Paulo, em um feliz momento de sua trajetória derrotou Lula duas vezes para a Presidência da República. Ele deu sua contribuição para a democracia brasileira e para o nosso país. Hoje ele está na história, mas não transfere mais votos, acredito.
Da mesma forma o afrodescendente Joaquim Barbosa, o homem de Paracatu. Quando presidente do Supremo foi sem dúvidas a maior personalidade pública do Brasil e talvez da América Latina. Referente à transferência de votos para Lula presidente, a capacidade é menor que os cientistas do PT imaginam.

Suplicy já foi detido pela polícia ao protestar a favor do povo menos favorecido. Ainda assim, cientistas políticos acreditam que sua boa imagem não foi valorizada pela campanha presidencial de Lula da Silva
Por outro lado e dentro das lides petistas, Eduardo Matarazzo Suplicy, o mais votado para deputado estadual e com uma campanha franciscana, quando aos 81 de idade obteve 807.015 votos, obviamente é um apoiador de proa do Lula. Este sim transfere votos para o Lula e poderia ter sido melhor aproveitado pelos marqueteiros do PT.
É um vereador de respeito, foi deputado estadual, deputado federal, três mandatos consecutivos no Senado da República, onde construiu uma das mais belas histórias naquela Casa. Portanto, Lula e sua turma erraram por não aproveitar como deveria o potencial de Suplicy, que é um dos poucos políticos com trajetória gigante e baixa rejeição.
Finalmente, a eleição mais disputada de nossa história será decidida na emoção e no último debate no dia 28 de outubro na TV Globo. Que os dois candidatos se preparem e o Brasil escolha o melhor caminho!
É um vereador de respeito, foi deputado estadual, deputado federal, três mandatos consecutivos no Senado da República, onde construiu uma das mais belas histórias naquela Casa. Portanto, Lula e sua turma erraram por não aproveitar como deveria o potencial de Suplicy, que é um dos poucos políticos com trajetória gigante e baixa rejeição.
Finalmente, a eleição mais disputada de nossa história será decidida na emoção e no último debate no dia 28 de outubro na TV Globo. Que os dois candidatos se preparem e o Brasil escolha o melhor caminho!
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