A Rússia é uma das maiores produtoras mundiais de petróleo e principal fornecedora de gás natural para a UE Gazprom anunciou que forneciment...
A Rússia é uma das maiores produtoras mundiais de petróleo e principal fornecedora de gás natural para a UE
Gazprom anunciou que fornecimento à Ucrânia e à União Europeia segue com os fluxos normais. Governo ucraniano também confirmou que infraestrutura de gasodutos segue intacta. (Nord Stream 2/Divulgação)
A confirmação da ocupação da capital da Ucrânia, Kiev, por tropas russas ocorreu hoje às 13h50, horário local. A invasão do território ucraniano pelo exército liderado por Vladmir Putin teve início ontem (24/2), e já pressiona os preços de combustíveis e fertilizantes ao redor do mundo.
As cotações do petróleo atingiram a maior alta desde agosto de 2014, com os preços do contrato mais ativo do Brent ultrapassando os US$ 105 o barril.
A Rússia é uma das maiores produtoras mundiais de petróleo e a principal fornecedora de gás natural para a União Europeia, que tenta por meio de sanções econômicas frear a ofensiva russa.
Em relação ao gás natural, os preços do contrato do TTF alcançaram EUR 127,3 MWh, maior valor desde dezembro de 2021, segundo levantamento da consultoria StoneX.
O preço já andava em patamares elevados desde o ano passado, devido a cortes no fornecimento do gás por parte da Rússia e menor estoque dos países europeus.
A situação pode ser agravada com possíveis danos à estrutura de gasodutos que ligam a Rússia à União Europeia, e que passam por território ucraniano.
Por enquanto, mesmo com o início da invasão, a empresa russa Gazprom, que fornece gás natural à Europa, anunciou que o fornecimento à Ucrânia e à União Europeia segue com os fluxos normais. O governo ucraniano também confirmou que a infraestrutura de gasodutos que passam pelo país segue intacta.
Entretanto, a alta dos combustíveis já afeta o preço das commodities agrícolas, como soja, milho, açúcar, trigo e algodão.
“Conflito tem sido um importante fator de suporte para as commodities energéticas, efeito que acaba sendo refletido também nas commodities agrícolas, dada a forte correlação entre os preços dos fretes marítimos e o petróleo”, diz relatório da StoneX.
No Brasil
A situação pode ser ainda pior no Brasil, onde o modal de transporte de cargas é concentrado nas rodovias. O diesel, principal combustível utilizado por caminhões, deverá apresentar mais uma alta de preços.
Segundo o senador Alexandre Silveira (PSD-MG), a guerra na Ucrânia pode trazer de volta às discussões do Congresso a PEC dos Combustíveis.
Silveira defendeu, em entrevista ao Poder360, que o Senado vote propostas assistencialistas “mais contundentes” para ajudar brasileiros a lidar com impactos econômicos do conflito no leste europeu.
O Senador Carlos Fávaro (PSD/MT), autor da PEC, também defendeu a aprovação da emenda como maneira de estabilizar os preços do diesel, do botijão de gás e do transporte público.
“Estamos vivendo um momento histórico com a invasão da Rússia à Ucrânia e que, certamente, afetará a população brasileira no que tange à alta dos preços dos combustíveis. Apresentei no Senado Federal uma proposta de emenda à constituição (PEC 1/2022), que é incisiva no tratamento deste grave problema que vem atingindo todo o país”, publicou o senador em suas redes sociais.
Biodiesel
A invasão da Ucrânia pela Rússia também fez os preços da soja em Chicago dispararem.
Os países não são grandes produtores e exportadores do grão, mas o impacto veio pelo lado dos óleos vegetais.
De acordo com a StoneX, Ucrânia e Rússia são, respectivamente, o 1º e 2º maiores produtores e exportadores de óleo de girassol do mundo. Juntos, os dois países respondem por cerca de 60% da produção global do óleo, e 78% das exportações.
“O óleo de girassol é o quarto mais produzido e sua concentração na região do Mar Negro, com o conflito armado podendo afetar não somente a distribuição para os países demandantes (já há notícias de interrupção de atividades portuárias na Ucrânia), mas há possíveis impactos mesmo na produção, dependendo da região dos conflitos”, detalha a StoneX.
No Brasil
Caso se intensifique uma ruptura na cadeia de fornecimento do óleo de girassol, a demanda por outros óleos deve aumentar, com destaque para o de soja.
Principal matéria-prima do biodiesel no Brasil, o óleo de soja já apresentava, antes mesmo do conflito, um cenário crítico com estoque reduzido no mercado mundial, demanda forte e problemas pelo lado da oferta.
Para a consultora, “no caso específico do óleo de soja, a América do Sul enfrenta quebras de safra consideráveis, situação que preocupa quanto à disponibilidade do farelo e do óleo também”.
A pressão sobre o óleo de soja poderia aumentar ainda mais os preços do biodiesel, que nos últimos dois anos vem sofrendo com as medidas do governo para tentar conter a alta do preço do diesel ao consumidor final.
O cronograma com percentual mínimo de adição de biodiesel no diesel não é cumprido integralmente desde 2020, em um dos reflexos da pandemia de covid-19.
O desabastecimento de derivados da soja também afetaria fortemente a Pecuária brasileira, em especial de frangos e suínos que usam o farelo como principal matéria-prima da ração animal.
Etanol
Na Europa, o índice do biocombustível saltou 14%. Medido pela S&P Global Platts, o índice de preço do etanol europeu obteve uma alta de dois meses, a € 1.060,25 por metro cúbico, nesta quinta-feira, 24/2.
A movimentação do açúcar também acompanhou o conflito entre Rússia e Ucrânia. O contrato contínuo do refinado em Londres também se valorizou ao longo do pregão, testando a máxima de US$ 511/t na ICE-Europe, a mesma alta foi observada no açúcar bruto.
“O desempenho do açúcar bruto refletiu a firme valorização do petróleo Brent”, explica a StoneX.
No Brasil
Segundo a consultoria, o encarecimento do petróleo também abre margem para um aumento nos preços dos combustíveis nas refinarias do Brasil.
“Poderia atuar como fator de suporte às cotações do etanol no mercado doméstico, de modo a manter relativa competitividade frente à gasolina nas bombas e ao açúcar para as usinas”, afirma o relatório.
A consultoria estima um mix açucareiro do Centro-Sul equilibrado, de 45,5% em 2022/23 (abr-mar), dado as fixações avançadas e um consumo arrefecido de combustíveis.
“No entanto, tal dinâmica será acompanhada de perto nos próximos meses, sobretudo em meio às incertezas acerca dos futuros do petróleo e seus impactos sobre os preços dos combustíveis no Brasil“.
Fertilizantes
Os impactos imediatos da invasão russa à Ucrânia, nesta quarta-feira, já interferem nos preços futuros de fertilizantes, com altas de 40% nas cotações futuras da ureia, por exemplo.
Isso ocorre porque a Rússia é o maior produtor e exportador mundial de fertilizantes nitrogenados.
“A escalada nos conflitos geopolíticos poderão ameaçar a disponibilidade de fertilizantes em 2022”, alerta a StoneX.
Outro agravante é que a Bielorrússia, aliada da Rússia, é uma das principais produtoras de fertilizantes potássicos. As exportações bielorrussas e russas, somadas, correspondem a quase 40% da oferta global de potássio.
Segundo a StoneX, “a invasão à Ucrânia piora esse contexto, ao passo que o país é grande aliado da Bielorrússia e é uma das frotas de escoamento do cloreto de potássio bielorrusso para o resto do mundo”.
No Brasil
Nesse cenário, o Brasil deve encarar graves desafios. O país é um dos maiores dependentes de fertilizantes importados do mundo. Cerca de 80% dos adubos utilizados no agro brasileiro vêm de fora do país, sendo os maiores fornecedores, justamente, Rússia e Bielorrússia.
De acordo com dados da consultoria StoneX, um dos indicadores diários de preços reportava ureia a US$ 635 por tonelada CFR Porto Brasil na quinta (24/2). O valor é US$ 65 por tonelada maior que o reportado no dia anterior, de US$ 570 por tonelada.
Soma-se a isso, as possíveis novas sanções a disponibilidade de potássio da Rússia e ao próprio aumento do gás natural, principal matéria-prima dos fertilizantes nitrogenados.
A visita do presidente brasileiro Jair Bolsonaro à Rússia em meio à iminência de uma guerra — o que causou enorme embaraço diplomático — teve como assunto oficial a garantia de fornecimento de fertilizantes ao Brasil e mais investimentos no setor.
O governo federal também prepara o Programa Nacional de Fertilizantes, para impulsionar o setor no Brasil e tentar reduzir a dependência nacional de importações. Com informações de Gabriel Chiappini
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